O HostelsClub convidou-me para falar sobre o Porto Envolto, sobre o meu percurso como pessoa e blogger até hoje. Foi com prazer que aceitei o convite desta empresa que ajuda a escolher alojamentos em todo o mundo e inspira a viajar. Foi uma entrevista introspectiva e de balanço em que me podem ficar a conhecer-me melhor, incluindo saberem qual foi a viagem que mais me marcou. Curiosos? Vejam abaixo as respostas ou na publicação original aqui.

HostelsClub: O blog “Porto Envolto” começou por se focar mais no Porto e região Norte de Portugal mas posteriormente, decidiu alargar para todos os destinos onde ia (Portugal ou fora). Pode-nos explicar um pouco sobre o projeto e objetivos?

Vera Dantas: O Porto é a cidade onde escolhi viver e que tem tido uma dinâmica incrível nos últimos anos, pelo que quis dar-lhe um destaque especial no blog, bem como à região Norte, que é belíssima e com um património imenso. Mas tinha o objectivo de a médio prazo, depois de alcançar uma boa audiência (actualmente com mais de 100.000 visitas mensais de leitores em língua portuguesa e inglesa), explorar outros destinos, dentro e fora do país. No Porto Envolto, o Porto é, mais do que um destino, um ponto de partida para viajar.

HC: O seu blog tem uma secção de “lifestyle”, que se destina a falar um pouco de músicos portugueses, assim como livros, arquitetura, e muito mais. Como escolhe de quem e do que falar?

V.D.: A secção de Lifestyle do Porto Envolto é hoje diferente do que era quando o blog surgiu. Se no início dava destaque a autores e eventos icónicos do Porto, hoje cabem na rubrica Lifestyle sobretudo experiências e produtos ligadas ao universo das viagens – sejam hotéis, restaurantes ou marcas que se afirmam pela sua excelência e por estarem associadas a um local ou país, dando voz às pessoas criativas e empreendedoras.

Os temas sobre os quais escrevo têm algo que me toca directamente, são reflexo do meu gosto pessoal e da minha experiência de vida. Por vezes o difícil é decidir entre tantas ideias que me vão surgindo, já que o mundo é uma fonte de inspiração constante. Cada post que publico tem uma história associada, que me inspira a escrever e a fotografar. Conseguir transmitir essas histórias aos meus seguidores é o que tem feito o blog crescer.

HC: A Vera é de Viana do Castelo mas já viveu em Lisboa e no Porto… Parece-me que a resposta poderá ser óbvia devido ao nome do seu blog, mas de qual das cidades gosta mais? Quais as diferenças que acha que existem entre estas “cidades rivais”?

V.D.: Já vivi em Viana do Castelo, Braga, Lisboa e Porto e no estrangeiro – em Trier (Alemanha) e em Barcelona. Viana faz parte da minha identidade, memórias e maneira de ser. Fui para Lisboa para ser jornalista nas redações principais e viver a dinâmica cultural da cidade. Tinha, como tenho sempre, sede de cultura – no primeiro fim de semana na cidade visitei 7 museus e isso foi só o começo de uma experiência feita de concertos, exposições e bons momentos passados a explorar e a viver Lisboa.

Não diria que Lisboa e Porto são cidades rivais, mas sim diferentes. Lisboa parece estar mais fechada sobre si própria. O Porto tem uma combinação fabulosa entre a área urbana e os espaços verdes, o rio e mar. Quando vivia no centro de Lisboa, aos fins de semana a cidade esvaziava-se. Apesar da pressão do turismo ser comum às duas cidades, o Porto tem uma coisa única, que é o forte sentido de pertença dos seus habitantes e uma maneira mais franca de estar e de receber. Lembro-me de uma vez ir a passar no túnel da Ribeira e ouvir um grupo de rapazes a gritarem “Porto! Porto!” efusivamente, com o braço no ar. Não era dia de futebol, era orgulho genuíno de ser do Porto. E eu partilho desse sentido de pertença.

H.C.: Prefere passear por Portugal em sítios mais turísticos e massificados ou dar oportunidade ao interior de revelar a sua beleza? O que acha acerca do turismo rural?

V.D.: Sou uma pessoa mais citadina e uma apaixonada tanto pelas marcas que a História deixou no património e nas peculiaridades de cada região como pelas novidades que as renovam constantemente, quando bem pensadas. Mas cada vez mais me deslumbram as paisagens naturais, seja em montanhas cobertas de neve, no deserto, em florestas ou em zonas aquáticas, tanto pela inspiração como pelas oportunidades de fotografia que oferecem. E também as pessoas que voltaram aos lugares das suas raízes. São essas pessoas que estão a criar projectos magníficos de turismo rural no nosso país, que envolvem a comunidade das suas regiões para criar produtos novos ou recuperar aqueles que foram sendo abandonados e que têm um valor insubstituível – como vinhos, azeites, tapeçarias, artesanato, herdades e quintas. Tenho muita vontade de descobrir todos estes sítios, não só no continente como nas ilhas, e transmitir como são especiais com o meu trabalho de escrita e fotografia. Afinal, foi também por me aperceber da falta de conteúdos e de conhecimento sobre os lugares, as paisagens e as aldeias portuguesas que criei o Porto Envolto.

HC: Em termos de viagens internacionais, qual foi a que a marcou mais e porquê? Conte um episódio marcante!

V.D.: A viagem que me marcou mais foi a que fiz ao Egipto, por muitas razões: porque foi a concretização de um sonho; por descobrir uma monumentalidade superior à já grande expectativa que tinha; pelas sensações novas – a força do sol e o impacto do ar muito quente e seco; pela paisagem, que flui entre o azul do Nilo, o verde das suas margens e o rosa do deserto; pela pacífica sensação de que a linha tempo aí não se quebrou, quando vi os pescadores nas suas felucas e os camponeses com os arados que pareciam saídos de gravuras do Antigo Egipto; pelas diferenças culturais – a forma como as pessoas convivem em grandes grupos, sobretudo à noite, e a dureza crua da vida visível nas crianças, condenadas a vender e a pedir nas ruas e nas casas de terra ou nos grandes prédios com andares eternamente inacabados, como esqueletos de betão; pelo ritmo dos dias, marcado pelo chamamento dos muezin nos minaretes, a ecoar pelos céus; e também a música e os sabores dos frutos…

O Egipto é muito mais do que o Cairo com o seu magnífico Museu ou as icónicas Pirâmides de Gizé. Fiquei rendida aos traços contemporâneos da arquitectura do Templo da rainha faraó Hatshepsut, respirei fundo muitas vezes ao percorrer a grande extensão do Vale dos Reis e senti o tempo parar quando finalmente penetrei nalguns dos túmulos do vale que preservam as pinturas ancestrais com cores vivíssimas e formas que inspiram plenitude e eternidade.

Não consigo destacar apenas um episódio marcante, mas três nesta viagem: visitar o templo de Abu Simbel ao raiar do sol, passear entre as gigantescas colunas do templo de Karnak quando as estrelas ainda se fundiam no céu e desembarcar no Templo de Philae na Ilha de Agilkia. Tive o privilégio de visitar estes três lugares de madrugada, antes da invasão dos grupos de turistas, pelo que fiquei marcada por uma mesma sensação: desfrutar de um silêncio que me deu a sensação de descoberta destes lugares, a ilusão de um tempo infindo perante uma beleza que perdura, grandiosa e etérea, na solenidade da arquitectura e na subtileza das pinturas. Tal foi o impacto que esta viagem teve em mim que quando regressei ao Porto fui tirar um curso de Egiptologia. Afinal, não conseguiria romper o laço que me une ao Egipto desde então e para sempre.

HC: Para finalizar, quais os seus planos futuros em termos de viagens e carreira profissional?

V.D.: O Porto Envolto vai continuar a ser um blog de viagens que valoriza as paisagens, o património, e as marcas não só de Portugal como cada vez mais de outros destinos internacionais. Além da Europa, um território apaixonante e ainda mal conhecido pelos portugueses, Ásia e América estão entre as minhas prioridades, até porque tenho imensos leitores dos EUA. Quero continuar a ter uma abordagem de vivência na primeira pessoa, enquanto viajante, contando histórias que transmitem o que destinos, lugares, experiências ou marcas (e as pessoas que estão por detrás deles) têm de único, pois é isso que diferencia um blog de outros meios. Tenho algumas ideias originais para o blog que ainda não posso revelar, que passam pela concretização de parcerias, e que irão dar uma nova dinâmica ao meu trabalho e mesmo ao design do Porto Envolto. Além de blogger, sou consultora de comunicação e isso permite-me estar atenta às inovações nos meios digitais, incluindo as redes sociais, as estratégias de marca e o marketing digital. Mas seja em que área for, o que me motiva é a componente criativa, que vou querer sempre explorar.