A menos de uma hora de viagem do Porto, Amarante fica na região do Douro Verde e é também a porta de entrada no Douro Vinhateiro. Banhada pelo rio Tâmega, esta antiga cidade nortenha é rodeada por campos, quintas e serras. Numa viagem de 2 dias fiquei a conhecer as melhores razões para visitar Amarante e sei que, depois de lerem este post, vão ficar com vontade de explorar esta terra verde ainda este Verão.
1. Serra da Aboboreira: paisagem coroada por dolmens e mamoas
Primeiro a paisagem. Amarante partilha com Baião e Marco de Canaveses a aprazível Serra da Aboboreira. Acima dos 700 metros de altitude, o clima de terra temperada fria acolhe o granito cinzento de grandes rochas que se distribuem pelos planaltos e relevos ondulados. É uma paisagem aberta onde são raras as árvores: a vegetação rasteira prolonga-se por grandes extensões até às montanhas do Douro. Lá em cima o território é das aves de rapina, como o tartaranhão-caçador que, entre a Primavera e o Verão, rasga o céu em acrobacias aéreas. Mais abaixo, o espaço é da floresta nativa de carvalhos, que se regenera e subsiste.
Este é também um território de dolmens e mamoas, aqui construídas pelos povos primitivos que habitaram a serra. Construídos do final do IV milénio a.C. e dispersos pela serra, formam o conjunto megalítico da Serra da Aboboreira, que surpreende pela quantidade – são cerca de 40! O Museu de Baião, desenvolveu um contínuo esforço para explorar estes monumentos com a sua equipa de arqueologia e tem expostos achados desse empreendimento e ainda uma maquete muito detalhada da construção de uma mamoa, que merece uma visita.
Os dolmens estão dispersos e em lugares por vezes afastados das estradas, por isso uma forma de desfrutar da sua descoberta é explorar a serra com um guia que a conhece bem e a bordo de um jipe – eu tive a oportunidade de conhecer a serra dessa forma, com uma equipa de amarantinos apaixonados e conhecedores de toda a região – o João e Liliana, líderes da excelente empresa de tours Inside Experiences – que recomendo com toda a confiança. Além de conhecerem os melhores pontos da serra, vão poder fazer um piquenique recheado de coisas boas da terra – bola de carne, enchidos, pastéis, bolos, fruta e, claro, vinho verde de Amarante.
2. Museu Amadeo de Souza-Cardoso
As paisagens campestres de Amarante viverão para sempre nas obras do grande pintor modernista Amadeo de Souza-Cardoso, nascido na Casa de Manhufe, em Mancelos, Amarante. Os quadros de Amadeo, que partiu para Paris para se realizar como grande artista, estão espalhados pelo mundo, sobretudo em colecções particulares. Em Portugal, a seguir ao Museu Calouste Gulbenkian, é neste museu que se encontra a maior colecção de obras de Amadeo, parte delas doada pela família do pintor, num total de 37, concentradas na Sala Amadeo de Souza-Cardoso. Gosto especialmente da história que Amadeo conta na obra “A Casa de Manhufe”, já associada ao cubismo que o pintor viria a explorar. Aí se encontram ainda uma série de caricaturas bem humoradas.
Além de Amadeo, este museu expõe colecções de arte portuguesa moderna contemporânea, destacando-se obras de António Carneiro, Júlio Resende, Manuel Cargaleiro, Nadir Afonso, Vieira da Silva e José Guimarães.
3. Atelier de Amadeo de Souza-Cardoso
O atelier onde o artista pintou as paisagens de Amarante fica na casa do tio de Amadeo, a quem este chamava carinhosamente “tio Chico” e que desde muito cedo apoiou o pintor na sua vocação artística. A família de Amadeo, da burguesia rural conservadora e católica, chegou mesmo a destruir algumas das obras do pintor, que considerava demasiado ousadas. Até Portugal tardou em acompanhar a genialidade de Amadeo: mesmo depois de expor com sucesso em Nova Iorque, quando regressa ao país, Amadeo é mal acolhido pela crítica em Lisboa e no Porto, o que o afectou profundamente.
O atelier de Amadeo de Souza Cardoso ficava numa sala soalheira da casa do tio Chico. Hoje, é possível ter nesta casa, num espaço aberto para um pátio, uma sessão de aprendizagem de desenho inspirado no traço e na estética de Amadeo, com um formador que, além de amarantino, é um apaixonado pela obra do grande pintor. Neste cenário a inspiração envolvente ajuda a entrar no imaginário e na estética de Amadeo. Eu, que tive essa experiência, posso dizer-vos que estive completamente concentrada nas linhas, traços e ideias da pintura, ao longo de um bom período de uma tarde. E isso é algo excepcional na velocidade dos dias que em geral todos sentimos. Foi um tempo só para mim, criativo, em que o tempo, sem pressas, pareceu maior. Saibam como marcar o vosso atelier aqui.
4. Ponte, Igreja e Convento de São Gonçalo
A imagem de marca de Amarante é a da silhueta formada pelo conjunto da Belíssima Ponte de São Gonçalo, com a Igreja e o Convento com o mesmo nome. Parecem terem sido impressas ali, naquele cenário, com uma mesma pincelada, que aliás teria feito as delícias de muitos impressionistas…
Construída no século XVIII, esta ponte tornar-se-ia um dos estandartes da resistência às invasões das tropas napoleónicas em 1809: durante 14 duros dias, os soldados portugueses impediram a passagem das tropas francesas, em número muito superior. Quando se atravessa a ponte chega-se a um grande largo do qual se vê a singular Varanda dos Reis do século XVII. Nas colunas de suporte dos seus arcos, esta varanda tem as estátuas dos reis que patrocinaram a construção do convento, entre 1543 e 1600: D. João III, D. Sebastião, D. Henrique e D. Filipe I.
5. Doçaria conventual de Amarante
O Norte de Portugal contribui muito para o maravilhoso receituário da gastronomia portuguesa – descubram aqui a razão de esta região ser uma verdadeira meca dos amantes de boa comida – e Amarante é, com justiça, famosa pelos seus doces conventuais. Quem visita o centro histórico da cidade, dificilmente resistirá a parar para apreciar a montra da centenária Confeitaria da Ponte, mesmo ao lado da Ponte de São Gonçalo. Esta confeitaria é especializadíssima em doces de ovos de qualidade insuperável. Pingos de Tocha, Foguetes de Amarante, Papos de Anjo, Castanhas de Ovos, e tantos outros doces que se derretem na boca enchem os balcões desta instituição de doces conventuais, que se podem saborear na agradável esplanada sobre o rio. Mas isto “ainda é só o começo”, como diria Gabriel o Pensador, porque se continuarem a percorrer a rua…. vão encontrar outras confeitarias igualmente tentadoras. Eu, que em criança provei os melhores doces de ovos feitos na Pastelaria Dantas em Viana do Castelo – Dantas como eu, pois foi fundada pelo meu bisavô, no marcante edifício de Arte Nova que ele próprio fez erguer na Rua Manuel Espregueira – encontro aqui igual delicadeza de texturas e sabores. Melhor do que provar aqui estas obras de arte de comer, só mesmo levá-las para casa e saboreá-las devagarinho, de olhos fechados, ao som de uma música que esteja à altura de tão doces prazeres – sugiro o Prelúdio à Tarde de um Fauno, de Debussy.
6. Restaurante Pena
É um dos restaurantes mais bonitos em que estive, sobretudo pelo espaço envolvente. Uma grande videira em caramanchão conduz os visitantes num passeio bucólico de sombras verdes douradas até um espaço aprazível sob uma pérgola. Aí são servidas entradas acompanhadas pelo vinho verde …. Ao lado, uma esplanada também protegida por videiras com mesas em madeira que combinam com a vegetação envolvente. Em frente, uma grande casa senhorial do século XVIII. E porque aqui tudo tem significado, saibam que esta casa pertence aos sobrinhos de Amadeo de Souza Cardoso e que foi um dos filhos do casal, o arquitecto Raul de Souza-Cardoso, quem recuperou o antigo lagar da propriedade para o converter em restaurante.
O Restaurante Pena herda da quinta em que se insere, a Quinta da Pena, não apenas o nome, mas o traçado e os materiais nobres de uma casa nortenha: o granito e a madeira, e as suas cores e texturas que combinam naturalmente e forma harmoniosa. No interior, as pedras caiadas de branco das paredes revelam um tecto em grandes vigas de madeira.O ambiente é familiar, o menu vai buscar os melhores produtos locais conferindo-lhes uma apresentação contemporânea, servida em doses que satisfazem os bons garfos. Contactos e reservas aqui.
7. Parque Aquático de Amarante
É o maior parque de montanha da Península Ibérica e tem uma localização privilegiada pois fica junto ao rio, o que torna os seus jardins ainda mais refrescantes nos dias quentes de Verão. Tem atracções para os mais pequenos e também para aventureiros – como o Fast Mountain que, a 22 metros de altura, tem uma descida com180 metros de comprimento. Além dos escorregas e tobogans, o parque conta ainda com duas piscinas – uma grande, junto aos escorregas e outra mais retirada, rodeada por um agradável relvado e ideal para relaxar. Está aberto de 1 de Junho a 16 de Setembro. Mais informações aqui.