Se há uma imagem que todos os portugueses conhecem é a da Lagoa das Sete Cidades, na Ilha de S. Miguel, Açores. Quem não sonha ver a imagem luxuriante da enorme lagoa, com um lago de tom claramente azul separado de outro verde vivo por uma antiga ponte? Os que têm a sorte de realizar esse sonho, ficam deslumbrados com a vastidão, os tons e o sentimento de absoluta tranquilidade transmitido por esta paisagem. São vários os pontos de onde podemos contemplar esta Lagoa e eu já tinha podido vê-la noutra ocasião, mas nesta viagem as suas águas azuis e verdes ganharam para mim uma nova dimensão: entrei literalmente nelas, para um passeio de caiaque.

A maior parte das pessoas que visita as Sete Cidades vai com o objectivo de ver e fotografar a Lagoas e as suas margens. “Só” isso já deixa qualquer um maravilhado. Mas e se, além disso, puder navegar nas águas das lagoas, em plena autonomia e sem perigos, num simpático caiaque? Eu desconhecia que era possível, mas descobri que a Futurismo, empresa de animação turística famosa pela sua actividade de whale watching, também organiza actividades nas Lagoas das Sete Cidades. Além de caiaque, pode praticar-se Stand Up Paddle (SUP) e até mesmo fazer passeios de bicicleta pelas margens da lagoa. O melhor mesmo é combinar as duas coisas: primeiro fazer um passeio de bicicleta todo o terreno e depois continuar a aventura de uma forma mais relaxada nos grandes lagos de água doce. Foi o que fizemos, aproveitando o pacote combinado da Futurismo ao longo de 3 horas. No fim, parece incrível como coube tanto em tão pouco tempo. (Conto-vos em breve aqui no blog a parte da bicicleta.)

Tínhamos reservado a actividade nas Sete Cidades com algumas semanas de antecedência, ainda no continente, e tivemos imensa sorte com o tempo, pois estava ameno, com o sol a alternar com algumas nuvens – uma típica tarde açoriana.

Chegar ao centro de atividades da Futurismo foi fácil: fica mesmo na margem da Lagoa Azul das Sete Cidades. Tem um edifício de acolhimento com um espaço interior confortável e armários para guardar os pertences dos clientes, mesmo em frente a um pequeno cais em madeira.

Como fomos em família e éramos quatro, experimentámos duas modalidades: eu e o Artur (o pequeno de 9 anos) fomos num caiaque e o Nuno e o Luís (o nosso miúdo mais velho) preferiram experimentar SUP pela primeira vez. A Futurismo tem os equipamentos para as duas modalidades e permite escolher o que cada um prefere. A Lagoa das Sete Cidades oferece condições perfeitas para o SUP pois ou não há ondas ou as que há são muito suaves, o que torna muito mais seguro praticar SUP aqui do que em lagos maiores ou no mar.

A equipa deu-nos todos os conselhos necessários. Inicialmente acharam que podia ser melhor o Artur não levar remo, por ser ainda pequeno, mas como ele insistiu, já que é bem aventureiro e muito desportista, deram-lhe um também. E ainda bem! Mesmo com bracinhos pequenos, o impulso que deu ao caiaque fez muita diferença ao navegar :). Acho mesmo que rema melhor do que eu. Quanto ao SUP, como o Nuno e o Luís eram inexperientes, foram aconselhados a começar a remar de joelhos na prancha até sentirem o controlo necessário para se porem em pé. Com a ajuda de um empurrão inicial da simpática equipa da Futurismo, todos adentramos a Lagoa Azul.

À medida que nos afastávamos da margem, começámos a sentir a verdadeira dimensão daquele lugar tão extraordinário. Estávamos numa cratera formada por sucessivas erupções vulcânicas. Nela, o tempo deu origem a esta lagoa que veio a chamar-se Lagoa das Sete Cidades e que é o maior lago de água doce dos Açores, com 4,3 km de extensão e 33 metros de profundidade. Não tinha noção, quando lá estive, de que era tão profunda. As águas, apesar mesmo com algum vento, são calmas e as escarpas verdes a toda a volta envolveram-me de tal maneira que só podia sentir-me bem. O Artur, ocupado a remar e a sentir os raios de sol, sentia-se muito feliz e nunca falou sequer em medos. O facto de termos coletes salva-vidas também dá segurança. Mas, acima de tudo, esta é uma experiência tão completa, tão perfeita, que é preciso vivê-la na primeira pessoa.

Ligeiramente atrás de nós, o Luís e o pai começavam a arriscar levantar-se na prancha – e bem! O Luís cantava, com sorriso de orelha a orelha, enquanto navegava por esta lagoa perfeita. Em pé, faz-se mais resistência ao ar, por isso o ritmo de navegação acaba por ser mais lento.

Atravessar da Lagoa Azul para a Lagoa Verde tem o seu quê de emoção: é preciso que os canoístas estejam bem coordenados para passar sob um dos arcos de pedra, que não são muito altos. Com o coraçãozinho acelerado mas muita concentração, o meu valente timoneiro comandou o caiaque na perfeição!

Tinham-nos dito que na Lagoa Verde em geral está menos vento e as águas são mais calmas. Mas o que notámos mesmo foi a pouca profundidade da água junto à ponte. Demos por nós a remar sobre muitas raízes de plantas aquáticas e algas. É essa a razão de este lago ser verde. A luz reflecte a cor das algas que estão perto da superfície, o que não acontece na Lagoa Azul.

Mais tarde ficaria a saber que a Lagoa é o habitat de muitos lagostins vermelhos (podem ver-se esqueletos nas margens da lagoa), o que comprova a pureza deste habitat. Em toda esta viagem aos Açores, tivemos sempre a sensação arrebatadoramente boa de que a natureza é a protagonista. Sempre. E ao mesmo tempo a noção de que temos muito a aprender sobre os nossos recursos naturais, únicos e insubstituíveis. A água é um elemento constante no arquipélago açoriano, além do verde, envolvente e com espaço para crescer ou apenas permanecer, renovar-se. Sobre ambos, as aves, tantas e tão bonitas! É esta a natureza que pinta a bandeira dos Açores.

Quando decidimos regressar à Lagoa Azul a viagem já ia longa. Sem darmos conta, já estávamos há quase uma hora naquele bucólico passeio. O regresso fez-se bem, com o vento a favor. Na margem do cais, a equipa da Futurismo já nos esperava. Sentimos pena por termos chegado ao fim, mas estávamos completamente satisfeitos, de alma cheia. Sabíamos que aqueles momentos foram muito especiais. Foi como se tivéssemos descoberto um segredo que não está ao alcance de todos. Quando passámos sob a ponte havia pessoas a olharem para nós, com gosto nos nos verem mas ao mesmo tempo sem ponderarem passarem, elas, para o lado de dentro da aventura. Quando afinal basta saber que não só é possível, como acessível fazê-lo. E há um mundo de diferença entre ver ou fazer, não é? Podem acreditar: esta é daquelas experiências que valem meeeesmo a pena!