Quem entra no edifício da actual Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, na Avenida Rodrigues de Freitas, talvez não saiba que em tempos esta foi a Casa da Família Forbes, dotada de um grandioso jardim com plantas tropicais de várias espécies, algumas delas ainda hoje raras e únicas em Portugal. E que esse jardim foi desenhado pelo autor dos jardins do Palácio de Cristal, Florent Claes. Concluída em 1873, a casa seria, dois anos mais tarde, vendida a José Teixeira da Silva Braga, pelo que a propriedade ficaria conhecida como Palacete do Braguinha.
No final do século XIX, a propriedade seria convertida no primeiro parque de diversões, o “Tivoli” – imaginem que no espaço do actual Pavilhão de Madeiras e Metais já existiu um ringue de patinagem…
Hoje em dia os jardins, apesar de conservarem ainda parte da estrutura original, já não têm a área de antigamente, pois tiveram que ceder espaço para os edifícios da escola nos anos cinquenta do século passado, altura que a Escola de Belas Artes do Porto foi elevada à categoria de ensino superior. As alterações que então o espaço sofreu acrescentaram-lhe um conjunto de esculturas de autores consagrados, como Teixeira Lopes, Barata Feyo, Lagoa Henriques ou José Rodrigues. À entrada do jardim subsiste um pequeno lago, guardado pela escultura de Gustavo Bastos, outrora habitat de gansos e palco habitual de performances.
Os cinco pavilhões modernos que povoam o espaço do antigo jardim foram construídos por alguns dos mais notáveis engenheiros e arquitectos da época e pensados para a sua função pedagógica, o que na altura era uma atitude rara e inovadora. Cada um acolhe ateliers distintos: Desenho, Escultura e Pintura, Arquitectura e Exposições (estes três construídos entre 1948 e 1954), Tecnologias de Madeiras e Metais e ainda o Pavilhão Sul (concluídos em 1998 e 2006, respectivamente). Neste último, desenhado por Alcino Soutinho, ensinam-se Desenho, Meios Digitais, Novos Media e Ciências das Artes, como História do Cinema e da Fotografia ou Estética.
Como este espaço é antes de mais de aprendizagem, nos pavilhões criam-se novas obras a cada instante. Por isso percorri, guiada pelo curador do Museu da faculdade, Luís Nunes, todos os ateliers da faculdade. Deleitei-me especialmente com os de pintura e de escultura – neste, estudantes trabalhavam em auto-representações em sabão rosa e um “bebé” estava prestes a nascer por debaixo de uma camada de gesso (ver foto abaixo). Conforme os espaços e as artes, o ambiente muda entre o contemplativo da pintura e o mais industrial dos mosaicos, madeiras e metais.
Embora os ateliers estejam reservados aos alunos, quem visita a Facudade de Belas Artes do Porto pode deambular pelo jardim e visitar o Museu, concebido para exposições dos trabalhos dos alunos e de docentes e com mostras constantemente renovadas. A FBAUP tem um espólio de arte com o cariz especial e heterogéneo próprio de ser uma colecção universitária e que pode ser visto pelo público no Museu e nas galerias da facudade, consoante as exposições. E há ainda a Biblioteca, especializada em Artes e aberta a todos os interessados que a visitem.
Desta faculdade continuarão a sair novos valores artísticos portugueses e conhecer as suas obras na fase inicial da sua carreira é uma oportunidade valiosa. Passear nos jardins, visitar o museu ou sentar-se na esplanada da cafetaria, permite absorver o espírito criativo que vive no ar. Como me disse uma amiga, a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto é um local muito inspirador. Aproveitem-no.
Vera Dantas
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
Avenida Rodrigues de Freitas, 265
Mais informações no site da FBAUP, do Museu e da DG do Património Cultural.