Eça de Queirós - estátua de Hélder Pacheco - e Vera Dantas

Há um solar em Canelas, Gaia, onde Eça de Queirós viveu dias felizes. Foi lá que se enamorou da sua futura esposa, Emília de Castro Pamplona, filha dos Condes de Resende. Eça era já amigo desde a juventude do irmão de Emília, Manuel Benedito, com quem tinha estudado no Colégio da Lapa, no Porto. E foi com outro irmão da futura esposa, Luís, na altura quinto Conde de Resende, que o escritor viajou para o Oriente aquando da inauguração do Canal do Suez, em 1869. De regresso do Egipto, Eça foi a Canelas inaugurar a escola primária mandada construir pelo conde – ao que parece, este teria um filho bastardo e não queria que a criança ficasse sem educação.

Anos mais tarde, Eça confessa em carta ao seu amigo conde: “a minha afeição pela tua irmã nasceu em Canelas”. Eça e Emília ficariam noivos em 1885, tendo-se casado no ano seguinte, no Porto. O enamoramento de Eça de Queirós neste solar de Canelas e os passeios do escritor pela praia da Granja colocam Vila Nova de Gaia no roteiro bibliográfico do escritor. E por isso o solar é justamente sede da Confraria Queirosiana, em que se integra a Academia Eça de Queirós.

O encanto de estar num espaço percorrido por Eça de Queirós, escritor que não cessa de me surpreender a cada linha das muitas que ainda tenho para ler da sua grande obra, foi o principal motivo que me levou ao solar. Mas sabendo que o solar é hoje uma casa municipal de cultura para as áreas de História, Arqueologia, Antropologia Cultural e Património, pedi ao seu director que me recebesse para uma visita guiada, ao que este prontamente acedeu.

Joaquim António Gonçalves Guimarães, historiador e arqueólogo e director do solar, abriu as portas do núcleo museológico de arqueologia, com achados cerâmicos e outros objectos procedentes de várias regiões do Império Romano. De seguida, pelo pátio setecentista subimos a escadaria até à sala de jantar, espaço nobre da casa decorado com retratos de reis contemporâneos de Eça. Destaca-se uma litografia do rei D. Luís I, datada de 1886 e feita com a original técnica de impressão com pedra calcária – uma para cada cor – pela gaiense Real Litografia Lusitana.

Pela porta traseira da sala acedemos ao jardim das camélias, onde me pude sentar num banco de jardim muito especial, ao lado de Eça de Queirós – perpetuado em estátua de bronze por Hélder de Carvalho. É um local propício a momentos inspiradores, que me transportou para o mundo queirosiano.

E como sobre Eça há sempre mais a descobrir, nas antigas cavalariças existe a loja da Confraria, com alguns livros do escritor e de outros autores como o próprio Gonçalves de Guimarães, aliás mesário mor da Confraria. Há ainda vinho do Porto e espumante em homenagem a Eça. Subimos por fim à cozinha, em que uma monumental lareira guarda a colecção de livros queirosianos oferecida pelo escritor José Rentes de Carvalho, também ele especialista na obra de Eça, ao solar.

Além da ligação indissociável a Eça, o solar possui o riquíssimo arquivo Condes de Resende, com documentação do século XIII ao XX, disponível a investigadores e ainda a colecção de peças oitocentistas de Marciano Azuaga. Nas palavras de Gonçalves Guimarães, este é “sobretudo um espaço de memória”, em que se estuda e promove a Gaia histórica não de forma fechada e local, mas “numa perspectiva da sua relação com o mundo”. 

Solar dos Condes de Resende

Travessa dos Condes de Resende – Canelas, 4410-264 Vila Nova de Gaia

Tel.: 22 753 13 85

Horário de Funcionamento:

Todos os dias 9-19:00H

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