Sexta-feira 10 de Abril. Seis da tarde. Desço as escadas do metro na Avenida dos Aliados no Porto. Ouvem-se vozes ao microfone. Chego ao átrio e vejo sapatos pendurados numa estrutra metálica cúbica, sapatos que são vasos com flores frescas, vivas, sapatos de salto alto, sapatos de homem, ténis, cores, muitas cores entre sapatos e amores (as flores).
À volta do cubo, um círculo de pessoas ouve em silêncio as vozes que saem de uma pequena coluna no chão. Retive a última frase emitida, antes das palmas: “A melhor coisa que há na vida é chegar à noite e ter uma cama quente para dormir…”.
Depois vem uma mulher que dá as boas vindas à audiência e explica. Esta instalação urbana chama-se “Salta”, é uma metáfora dos passos que damos para concretizarmos os nossos desejos e objectivos na vida e resulta de um projecto de formação desenvolvido com um grupo de pessoas em situação de sem-abrigo do Porto. Não sei o seu nome, mas a mulher que fala traz na voz o sentido de missão cumprida, tanto quanto é possível numa situação que envolve pessoas que vivem no drama de não terem casa para viver. E convida alguns dos autores da obra a dizerem como se sentem depois do percurso feito até àquele momento. Uma mulher, um homem, outra mulher (peço-lhes que me desculpem, pois não fixei os nomes) falam para o público e dizem-se orgulhosos pelo que alcançaram e confiantes de poderem fazer muito mais. Dizem “somos capazes!”. E eu acredito que sim, respeito-os imensamente por não desistirem e ainda conseguirem sorrir. E espero que lhes seja possível realizarem todos os seus sonhos. E agradeço-lhes pela inspiração que me deixaram para continuar a não desistir. Obrigada.
Salta, Instalação Urbana
Estação de Metro da Avenida, Porto
10 a 20 de Abril de 2015