Praça da Ribeira no Porto em tons de aguarela

 

 

A Praça da Ribeira do Porto existe desde a Idade Média (século XIV), altura em que o comércio, com tendas de venda, e uma lota de peixe animavam o espaço. Por cima do chafariz do século XVII (ao fundo, à direita) está uma estátua de São João Baptista, da autoria do escultor João Cutileiro. E não é por acaso, pois esta praça é um dos pontos de paragem obrigatória nas noites de São João. No resto do ano, há sempre boas razões para lá passar. Eu tive a sorte de poder captar esta imagem, em que uma criança dança com um túnel de sabão que lembra a força de um festivo dragão chinês em tons de aguarela! Obrigada ao artista de rua que coloriu magnificamente um fim de tarde de Primavera.

Este instante trouxe-me à memória o tema Aquarela, do compositor, cantor e guitarrista brasileiro Toquinho, sobretudo a parte em que canta “Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que um dia enfim descolorirá”.

Por isso não resisto a deixar-vos a poesia completa da canção. A música para acompanhar está aqui, para começar bem este mês de Abril!

Aquarela

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
Com o lápis em torno da mão
E me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos tenho um guarda chuva
Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando,
Contornando a imensa curva norte sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela,
Branco, navegando,
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo,
Sereno, lindo,
E, se a gente quiser,
Ele vai pousar
Numa folha qualquer
Eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida
De uma América a outra
Consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha
E caminhando chega num muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(que descolorirá)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(que descolorirá)
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo
(que descolorirá)

Toquinho, 1983