Arte Nova ao estilo de Aveiro|Aveiro´s Art Nouveau

Há em Aveiro uma casa que nos leva numa viagem pelo mundo da Arte Nova. Com paredes azul celeste, portões de ferro forjado ornamentado com flores amarelas e harmoniosos baixos relevos em toda a fachada, o Museu Arte Nova magnetiza o olhar de quem passa, desde o piso térreo com a imponente porta de entrada em linhas diagonais até à imperial águia que contempla a cidade no topo do edifício.

Construída entre 1907 e 1909, esta casa foi morada do major Mário Belmonte Pessoa, comerciante ligado à importação do cacau, e integra-se plenamente nas expressões do movimento de Arte Nova de Aveiro. A imprensa da época, que designava a construção de edifícios ao gosto deste novo estilo como o “estilo de Aveiro”, elogiou-lhe a sua beleza e modernidade. O projecto é atribuído aos desenhadores Francisco Augusto da Silva Rocha, autor da maioria das construções do movimento Arte Nova em Aveiro, e Ernesto Korrodi. Motivos de fauna e flora e grandes janelas em arco que deixam entrar muita luz, mantêm a impressão de harmonia com a natureza e reflectem o desejo de recriar um jardim no coração da cidade durante um período de intensiva industrialização e construção.

A corrente Arte Nova em Aveiro concentrou-se nos aspectos decorativos das fachadas, mantendo-se os interiores numa estrutura e decoração de cariz conservador, o que reflecte a vontade de ostentação por parte dos proprietários dos edifícios, burgueses conservadores e emigrantes enriquecidos regressados do Brasil.

O Museu funciona como centro interpretativo de uma extensa rede de motivos Arte Nova disseminados pela cidade de Aveiro, tendo criado um roteiro para partir descoberta dos edifícios da cidade. No primeiro piso há uma exposição permanente sobre os conceitos da Arte Nova e a sua presença em Portugal. O segundo piso destina-se a exposições temporárias, tendo já exibido várias mostras de design contemporâneo inspirado na Arte Nova, sobretudo de joalharia, mas também de produtos de beleza como os da Ach Brito e Claus Porto. O envolvimento do pelouro da cultura da Câmara Municipal de Aveiro fez já com que a cidade integre a Rede Arte Nova, que agrega as cidades europeias com um património rico nesse estilo, divulgando o significado cultural e dimensão europeia do mesmo.

A charmosa Casa de Chá Arte Nova está instalada numa sala revestida a azulejos de lírios azuis, com cadeiras e sofás da centenária Thonet, conhecida por ter feito parte do movimento Arte Nova europeu com o seu mobiliário em madeira moldada. O ambiente Arte Nova prolonga-se para a esplanada, no pátio das traseiras do edifício, onde se pode contemplar esta maravilhosa casa e saborear uma das mais de cem variedades de chá à escolha. Dois bons motivos para visitar Aveiro, bem perto do Porto.

Silva Rocha e Ernesto Korrodi, desenhadores ou arquitectos?

Ernesto Korrodi, suíço de nascimento e leiriense por opção, desde cedo se dedicou à arquitectura como autodidacta. O seu extenso e reconhecido trabalho arquitectónico conduziria a que o governo português lhe concedesse o título de arquitecto aos 56 anos.

Silva Rocha foi o desenhador mais influente no movimento Arte Nova de Aveiro já que, além de ter estado envolvido directamente na construção de vários edifícios neste estilo na cidade, contribuiu muito para a divulgação da Arte Nova entre os novos designers, ao longo dos 40 anos em que dirigiu a Escola de Desenho Industrial de Aveiro. Esse protagonismo viria a causar desconforto entre os arquitectos seus contemporâneos: a falta do título e o favoritismo de que beneficiou Silva Rocha levaram mesmo a que fosse admoestado pela Ordem dos Arquitectos em 1928. A sua obra é recordada no livro “Francisco da Silva Rocha 1864-1957 Arquitectura Arte Nova – Uma Primavera Eterna”, da autoria de Maria João Fernandes, bisneta do autor, com edição da Câmara Municipal de Aveiro.